“Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram com os criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda. Jesus disse: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo. Então eles dividiram as roupas dele, tirando sortes. O povo ficou observando, e as autoridades o ridicularizavam. Salvou os outros, diziam; salve-se a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Escolhido. Os soldados, aproximando-se, também zombavam dele.” Lucas 23.33-36

Ao longo de seu ministério, Jesus foi perseguido por diversas vezes e diferentes grupos tentaram desde colocá-lo em situações constrangedoras até criarem oportunidades para sua morte. Isso porque ele foi considerado blasfemo, se relacionava com publicanos e pecadores, fazia o que não era permitido no sábado, não vivia de acordo com a tradição dos líderes religiosos, além de diversos outros motivos. Após muitas tentativas, finalmente Jesus foi traído, preso e condenado.

A partir de então, naquela sexta-feira antes da Páscoa, começaram as humilhações. Jesus foi despido e recebeu um manto vermelho e uma coroa de espinhos. A cruz de Jesus foi erguida em meio a dois criminosos. O povo o observava, as autoridades o ridicularizavam e os soldados zombavam dele. Como reagir a tal situação? Jesus escolheu dizer: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo”. Em meio a todo o caos, Jesus fala sobre perdão. Talvez, o caminho mais fácil seja pensar que ele fez isso por ser o próprio filho de Deus. Mas ao longo de seu ministério, deixa claro que o perdão é parte essencial de seus ensinamentos. No início de sua vida pública, ao proferir o Sermão do Monte, ele falou: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas” (Mateus 6.14,15).

Mas como perdoar a quem nos persegue?
Essa é uma das lições que aprendemos com a Igreja Perseguida. No dia 2 de abril completaram-se cinco anos do ataque à Universidade de Garissa, no Quênia. 147 pessoas, a maioria estudantes cristãos, morreram durante as 15 horas de cerco por militantes islâmicos do Al-Shabaab. Naquele dia, alunos cristãos pagaram o preço por seguir a Cristo, enquanto os que sobreviveram sentem as consequências da dor física e emocional causada durante o evento.

Ben* é um deles. Ele estava a caminho de um encontro de oração naquela manhã quando ouviu tiros e percebeu que estavam sob ataque. Ele imediatamente deu a volta e se escondeu o melhor que pôde no quarto. “Por meio de aconselhamento, temos lidado e aceitado a realidade do ocorrido. Mesmo assim, há algumas coisas que você sente, vê e ouve que trazem memórias do que aconteceu. As feridas estão curadas, mas as cicatrizes continuam aqui.” Ben não tem ódio no coração com relação a muçulmanos, mas sente que o perdão relacionado aos terroristas vem do próprio Deus. 

Já o outro aluno, Wik*, quando os militantes atacaram a universidade, rapidamente pulou o muro. Porém, depois soube que a namorada foi morta. “Não acho que posso expressar realmente como foram os ataques. Mas descobri que a melhor forma de seguir em frente é perdoá-los e deixar Deus lutar por mim. Eu deixei minha amargura ir embora.” Ao ser questionado se em algum momento pensou em abrir mão da fé, Wik disse: “Jesus é o único caminho. Após o incidente em Garissa, senti que se não fosse por ele, eu não seria mais nada. O amor que recebi dos cristãos e da igreja também me deu motivo para permanecer em Cristo e a esperança de que um dia encontrarei os amigos que perdi durante o ataque”.

Já Esther* sobreviveu ao ataque ao se esconder no teto do dormitório: “Eu vi e ouvi como meus amigos eram mortos. As visões e os sons perseguem meus pensamentos e memórias”, disse a um colaborador de campo da Portas Abertas durante seu primeiro encontro, no hospital. Hoje, ela está muito melhor: “Eu consegui lidar bem com isso. Agradeço a Deus. Eu aprendi a perdoar porque percebi que não perdoar é apenas um fardo que me machuca, ainda mais porque essas pessoas nunca se importaram. Então, decidi deixar para lá. A dor ainda está um pouco aqui, mas o tempo tem sido um bom remédio para mim. Posso lembrar de todo o incidente, mas gradualmente, seu impacto está sendo apagado”.

*Nomes alterados por segurança.

Fonte: Portas Abertas

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